quarta-feira, 6 de outubro de 2010
Caminhos de Santiago
...Desde Maio que eu e o Berto decidimos percorrer os caminhos de Santiago, entretanto convidamos mais elementos dos KEZIA® mas apenas o Zé e o Daniel mostraram-se disponíveis para esta aventura. A data ficou decidida em Agosto mas o itinerário apenas foi escolhido poucas semanas antes da partida.
Escolhemos iniciar no Sábado do dia 2 de Outubro, para aproveitar a ponte do dia 5...
Para se iniciar, escolhemos a cidade de Guimarães, seguiria-mos por Braga e Ponte de Lima até Valença, porque era dos caminhos menos conhecidos e comentados. Assim que ouvimos dizer que se consegue percorrer os caminhos de Santiago em dois dias, resolvemos percorre-los em pelo menos três...
Para que os planos fossem cumpridos havia que se iniciar o caminho de dia para que o pudéssemos visualizar e seguir as famosas setas amarelas...
...E as setas levaram-nos de Guimarães até Santa Marta (Falperra), onde se carimbou pela primeira vez no Hotel... È curioso que nunca ouvi-mos dizer que o caminho passa nesse local de culto, nem sequer que, desde as Taipas sobe "a pique" impossibilitando em muitos locais de se pedalar, obrigando a andar com as bicicletas "à mão", a escassez de gente a percorrer integralmente este caminho faz com que a vegetação seja muito densa...
De Braga a Prado o caminho é essencialmente por estrada, mas pouco depois brinda-nos com passagens muito exigentes quase até Ponte de Lima onde separou um pouco para comer algo e tomar um café...A partir de Ponte de Lima é bastante conhecido e comentado, nomeadamente a famosa subida de Labruja, onde nem com a bicicleta "á mão" se consegue progredir...Foi por aí que encontramos os primeiros grupos de peregrinos, quer a pé, quer de bicicleta, demonstrando a rapidez de andamento dos Kezia® (em meu entender demasiado rápidos).
Com a nossa chegada a Valença chegou também a chuva, no Albergue de S.Teotónio era-mos o terceiro grupo a chegar (mais uma prova de rapidez), rapidamente nos instala-mos e jantámos (primeira refeição quente)...
...Quando acordei no Domingo, dia 3, já um grupo (os Jesuitas do meu amigo Martins da minha 1ª peregrinação a S.Tiago) tinha "abalado", diziam que foram ás 5 !!! Chovia copiosamente e os comentários eram desanimadores para alguns, falava-se em desistir, mas os Kezia® mantinham-se firmes, apenas se preocuparam em se proteger da chuva que iriam apanhar certamente, tentando minimizar as possíveis consequências, assim recorreram a sacos grandes para retardar a entrada das chuvas no corpo...Tomou-se o pequeno "grande" almoço e a chuva miraculosamente parou !
Arrancamos em direcção a TUY e logo após a cidade o primeiro contratempo...As chuvas tinham transformado pequenos riachos em rios ! A água chegou a dar pelos eixos, havia quem vinha para trás quase a chorar, mas ao verem, os agora três Kezias® a progredirem lá se decidiram a seguir também o caminho, que por sua vez rapidamente chegou a Porrino e sua bela cidade que estava em festa...Após TUY é MÓS, e com MÓS voltou a chuva, mas agora estava-mos em altitude e não havia problemas com os rios, mas a fome (a mim) apertava, e obrigou-me a parar...E a parar os restantes KEZIA's® ... Retemperadas as energias , mesmo antes do Albergue de MÓS e a sua famosa extra longa subida...Depois de uma subida vem outra e mais outra até ás mais violentas descidas para a bela cidade de Redondela, aí estava completamente encharcado, mas a chuva voltou a abrandar mesmo no inicio da subida para Soutoxusto...
...Soutoxusto, é onde tinha prometido pagar um copo de Tinto a quem me acompanhasse ao Lume Novo, ai, pedi pão e vinho, porque o Zé tinha chouriço, após esta magnifica paragem bem quentinha, mudei de roupa e após o cafezito continua-mos o caminho a descer em direcção a Ponte Sampaio, estávamos bem animados, o reforço alimentar, o curto descanso e o café quente vieram mesmo a calhar.
Ao chegar-mos á N550 vi-mos uma Ford® Transit® de matricula Portuguesa rodeada de bicicletas, e que bicicletas, eram as PASTELEIRAS® do pessoal de Santo Tirso, estavam a fazer o caminho por estrada e até tinham mais quilometragem que nós, devido a estarem a fazer o caminho pela costa...
Para-mos o tempo suficiente para comer mais presunto, pão de centeio e umas mini's, dois dedos de conversa com o Sr.Matos (também ele acompanhou-me na minha primeira peregrinação), com o Jerónimo(o melhor carteiro da zona norte) e com o restante pessoal, eles estavam com equipamentos a condizer com as bicicletas, as galochas eram feias mas eficientes...Arranca-mos logo de seguida, e enquanto eles continuaram pela estrada nós seguimos as setas que nos levavam pelo duro mas belo caminho até Pontevedra, naquelas paragens quase não havia ninguém (a chuva afasta os turistas e residentes) pelas ruas centrais em direcção á ponte apenas encontramos as famosas estátuas das crianças brincando, como de costume lá se puxou da máquina fotográfica para uns sempre belos registos...Assim sem gente, as setas e as vieiras localizam-se muito facilmente, proporcionando andamento rápido e sem paragens em busca das indicações...
Após a passagem da ponte surgiu o primeiro furo no pneu do Zé,enquanto se consertava o dito, lá fomos ultrapassados por dezenas de peregrinos quer a pé quer de bicicleta, a partir daqui o caminho passa muitas vezes junto da linha de comboio, e por campos e quintais, de vez em quando apanhava-mos uvas americanas que por aqueles lados tem uma cor um pouco mais clara que as de cá, mas são igualmente deliciosas...Antes de chegar-mos a Caldas de Reys ainda houve tempo para visitar as quedas de água do Rio Barosa, como estava o tempo de chuva, era-mos apenas nós a contemplar aquela força da natureza. Ainda tenta-mos convencer um grupo de betetistas que nos andava a perseguir (e nós a eles) desde manhã, mas não tinham animo (força) para fazer a pequena subida até ao parque natural, mas este parque fica muito próximo de Caldas de Reys, para nós não faria diferença, pois sabia-mos que a etapa estava quase concluída...
À chegada a Caldas de Reys, o caminho passa junto á fonte de águas termais, que são quentes, mesmo muito quentes, e que bem que nos soube por lá os pés...Entretanto era preciso arranjar lugar num Albergue, mas sabia-mos que estavam cheios, os peregrinos estavam a ser encaminhados para o pavilhão local, mas apesar de eu estar entusiasmado com a ideia (dormir no chão) os restantes elementos preferiram procurar algo mais confortável, e eu não me incomodei nada com a ideia, rapidamente arranjou-se uma pensão com garagem para as bicicletas, cama (verdadeira, não beliches) TV etc. a um preço simbólico...Após um longo banho quente, procurou-se um restaurante "jeitoso" (incrivelmente barato) onde encontra-mos muito do pessoal que nos tinha acompanhado desde Valença...O cansaço aconselhou-nos a deitar cedo,para tarde erguer...
... Na Segunda Feira dia 4, pela manhã, bem cedo, (9h em Espanha, 8h. em Portugal) arruma-mos as coisas, lavamos e carregamos as bicicletas. O dia estava com o céu bem limpo, o calçado ainda estava molhado, resolve-mos colocar um saco por fora das meias para não sentir a humidade nos pés e partimos rumo ao primeiro café que aparecesse (durou cerca de dez metros) toma-mos um "muy rico" pequeno almoço e foi dada a partida, o caminho seguia pelo centro de Caldas, curiosamente nunca tinha passado por ali, nos anos anteriores seguíamos pela estrada principal, embora fosse paralelo a arquitectura do centro histórico merece ser visitado, e como era dia de feira até foi bastante divertido passar pelo meio daquele reboliço...Rapidamente atingimos uma zona rural e logo de seguida a zona florestal com muito bom piso rolante, começamos a passar peregrinos a pé e alguns de bicicleta (o descanso fazia com que o andamento fosse bastante rápido) após o "bosque" junto á Autopista (sempre a descer) ,na entrada da "carretera" estavam dois Guardas Locais a fazer controlo de peregrinos, tomando nota dos nomes e números de BI, e carimbando as credenciais, a nós ainda nos fotografaram (com as nossas máquinas) mostrando a sua simpatia...Logo depois fizemos uma paragem para reforço alimentar e pôr alguma conversa em dia, faltavam poucos quilómetros para Padrón, aí fomos "apanhados" por um grupo bastante numeroso de betetistas, eram os BTT Penafiel, que seriam "apanhados" na cidade industrial de Padrón , durante algum tempo fizeram-nos boa companhia (traziam uma senhora no grupo que andava bastante bem) até que tive um furo lento que nos fez atrasar...Por esta altura era a vez do Zé sentir fome, mas com S.Tiago á vista, resolvemos parar apenas lá. Escolhemos o primeiro restaurante que apareceu, faltavam apenas 4 quilómetros e não fazia sentido chegar ao fim do caminho muito cansados e cheios de fome...
Após um prato de massa, um hambúrguer, uma sopa, café e cerveja, muda-mos a câmara e prosseguimos em direcção á Catedral muito religiosamente (calmamente), tinha-mos demorado dois dias e meio a chegar ao que pensava-mos ser o fim desta aventura...
Após as fotos da praxe, fomos carimbar pela ultima vez na Oficina do Peregrino e receber a respectiva Compostela.
Na Oficina existem vários balcões de informações, dirigi-mo-nos ao da RENFE® (equivalente á CP em Portugal) e percebemos que não iria-mos apanhar um comboio com ligação a tempo de chegar a Portugal pela tarde, então fomos para a estação comprar os bilhetes para as bicicletas no primeiro comboio com lugares disponíveis para as bicicletas, na estação encontravam-se os BTT PENAFIEL, como era um grupo bastante numeroso estavam a negociar outra forma de regresso, soube mais tarde que regressaram de carro. quanto a nós ainda esperaria-mos cerca de duas horas, mas já com os bilhetes na mão resolve-mos voltar para junto da Catedal.
..Ao chegar-mos pela segunda vez á Catedral, um grupo bastante ruidoso chamou-nos a atenção, eram os elementos de Santo Tirso e as suas Pasteleiras,® quem passava pelo local, ficava admirado com todo aquele cenário, o tempo estava bom, as indumentárias a condizer com as bicicletas, favoreciam a paisagem arquitectónica antiga de Santiago...Foram tiradas inúmeras fotos de quem passava no local, quem passava esboçava um largo sorriso...
Após mais algumas canecas de cerveja, mais conversa, alguns test-drives nas respectivas Pasteleiras voltamos á estação... Pelas 20h. de Portugal "Apanhamos" o comboio até Redondela onde jantamos calmamente e novamente a preço simbólico, para iniciar-mos uma nocturna de trinta quilómetros até Valença pela N550.
Estava uma temperatura agradável (para a hora), não chovia, prepara-mo-nos o melhor possível para sermos vistos, as luzes não eram as melhores e a humidade do caminho tinha causado danos nas pilhas, também sentimos que faltou o colete reflector...Chegados a Porrino foi feita uma longa paragem na praça central excelentemente iluminada, a viagem pela estrada estava a correr muito bem, pouco ou nenhum transito, talvez 5 carros no percurso todo.
Logo que abandonamos o núcleo urbano da cidade, fomos interceptados por uma patrulha da Guardia Civil que nos aconselhou qualquer coisa em espanhol, mas fiquei sem saber o quê...De Porrino a TUY além dos guardas não vimos ninguém a circular. Na antiga ponte metálica (fronteira) tivemos oportunidade de tirar fotos no mesmo meio da ponte!
Chegados a Valença, dirigi-mo-nos ao quartel dos Bombeiros onde nos deixaram pernoitar lá, (o albergue estava fechado) apenas pretendia-mos proteger do orvalho...O cansaço e o sono deixou-nos dormir no chão, apenas com o saco-cama...
Pela manhã do dia 5 , após o pequeno almoço fomos para a estação de Valença, sabia-mos que o primeiro comboio seria ás 7:14 (haveria mais cedo se não fosse feriado oficial) quando o comboio chegou (vindo de Vigo) , o revisor não queria deixar entrar as nossas bicicletas...
Abriu a porta do compartimento para verifica-mos a razão...
Lá dentro estavam 11 bicicletas ! Um cenário incrível...Eram algumas BTT mais as Pasteleiras de Stº Tirso...
Mas dentro do comboio, no compartimento das bicicletas, surgiu o Sr.Matos, estendeu a mão e disse:
-Passem para cá uma de cada vez!
O revisor ficou momentaneamente sem palavras, mas rapidamente disse:
-OK, não me façam perder muito tempo !
...As bicicletas lá entraram, nós entramos no comboio e tivemos de passar o Sr Matos para dentro do compartimento dos passageiros...Pois tinha ficado entalado no compartimento de carga...
...E lá continuou a boa disposição até Famalicão (no nosso caso).
Quem entrava no comboio ao ver aqueles tipos com um aspecto retro, até pensavam que se estaria a rodar um filme antigo...
Após achegada a Famalicão, foi pedalar até casa....
Totalizando 300 quilómetros de aventura, cultura, desporto e muita animação...
Obs: Quem se fizer ao caminho evitar voltar de comboio, porque a RENFE está a modernizar a frota, em breve será a CP, não haverá mais que três lugares de bicicletas por composição. O pessoal de Stº Tirso conseguiu "furar" mas tiveram que fazer a viagem de noite, quando o comboio vinha "vazio"...
...Um filmezinho...
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1 comentário:
Caro amigo, está muito bom o relato acredita! 25% de mim fica com pêna de não ter continuado, mas isso são outras histórias. Certamente foi a viagem que mais te marcou e aos outros também! Parabéns pela coragem de se meterem com aquele temporal!! :)
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